sexta-feira, julho 07, 2006

Música, agitadora de emoções e pensamentos

Hoje fizeram-me uma proposta. Um convite que quero e vou tentar honrar o melhor que puder. À beira desta vertiginosa época de concertos, que se multiplicam à velocidade de um click , resolvi iniciar com a memória do que eu defino como, a descrição de um encontro musical casual com a surpresa dos sentimentos, agitados pelo mesmo encontro:
Numa noite chuvosa de Fevereiro, fui à descoberta de um tal Harris Newman.

“Enquanto a chuva caía intensa e persistente, a sala pouco cheia, respirava o silêncio. Apenas um violoncelo fazia o número de abertura, arrancando sons repetidos e pouco melodiosos. A ideia reverberizou-me na minha mente – será demasiado experimentalista para mim? Aos poucos os sons foram tomando conta e o cansaço da semana acumulada começou a surtir efeito. Desisti e fechei os olhos. À medida que esvaziava a cabeça de pensamentos, a imagem tornava-se mais nítida. Já vi isto acontecer antes! As ideias entram em ebulição. O som ritmado e repetitivo, resgatado peculiarmente, ao violoncelo transformava-se num sistemático movimento de limpa pára-brisas, ritmando a espera ansiosa e intrigante de quem observa e aguarda. Era perfeito para uma cena de suspense de um filme. À medida que os sons se tornavam mais fortes, a atenção passa para lá do vidro e da chuva que por ele escorre, por entre o movimento das escovas e a cortina de água deixa adivinhar o culminar do gradual aumento do ritmo e vibrações, que passavam agora a ilustrar o barulho ensurdecedor do cravar de estacas. Perfeito. Uma verdadeira e surpreendente viagem sonora, da qual participei por motivos aleatórios, que me levaram àquele espaço, naquela noite de chuva.”
Espero continuar a ter a sorte de testemunhar mais deste tipo de momentos musicais únicos que, tão naturalmente, se transformam nas palavras com que componho os meus pensamentos partilhados

Sem comentários: