
Desde o início do verão que todas as noites foram frias e totalmente desprovidas de qualquer espírito veraneado. Ontem foi diferente. Antes de sair de casa, muito perto das sete da tarde, a minha preocupação simultânea de encontrar uma camisola fresca para o final do dia e um casaco que me devolvesse o conforto mais para a noite, foi perfeitamente desnecessária: A noite manteve-se sempre quente e abafada. Aliás foi perfeita!
Depois de um jantar fugaz, onde tive a oportunidade de comer a tão "saudável"
Junk food, 10 minutos depois da hora marcada do concerto, já estava no
Beer Deck, no topo do edifício. Os espectadores distribuíram-se conforme iam chegando, deixando-se ficar em qualquer espaço livre que permitia uma melhor visão para o palco improvisado.

As guitarras lá estavam, e o contrabaixo que tanto adoro, todas dispostas lado a lado, fazendo lembrar instrumentos cirúrgicos preparados para a mais delicada das operações. E foi sempre assim durante a noite, sempre a trocar de instrumento, escolhendo sempre o mais adequado para aquela particular operação. Atrás dos músicos, a pilha dos estojos de guitarra, com um arranjo de flores no topo, dava, intencionalmente, o ar fúnebre. A cartola, os óculos escuros, e as indumentárias: Os Dead Combo.

No meio duma brisa quente e sensual que me fustigava os cabelos,
A menina dança foi das primeiras interpretações que soou depois do seu anúncio com a voz cava do
Tó trips. Foi a seguir, com
Clint Eastwood e
Eléctrica cadente que, de facto, me imaginei a cavalgar frenéticamente no meio do deserto de Atacama.
Ana (strawb) resgatou a minha imaginação para um estado mais anestésico, onde os meus músculos arrefeceram e eu me deixei derreter pela esplanada onde estávamos. Olhei para o céu, limpo, da noite imatura, e inalei cheiros interessantes que se misturaram com o perfume agradável que imanava de quem estava ali perto. A luz ténue proveniente de algumas mesas, dispostas para os jantares que ali decorriam, e o cheiro persistente do verão, ofereceu o melhor dos ambientes. Foi nessa altura que entrou
O menino, o vento e o mar. O mar…! Ali tão perto. Imaginei-o a invadir o parque das nações de forma tão lenta quanto possível, enquanto as guitarras iam sussurrando palavras melodiosas que me obrigaram a manter-me naquele universo durante todo o concerto.

Em
After peace, swim twice e
Tejo Walking,
Pedro Gonçalves tocou o contrabaixo. Na verdade foram estas as músicas que me trouxeram recordações fantásticas de um albúm que ainda hoje me arrepia:
Dialogues, de
Carlos Paredes em dueto com
Charlie Haden.
Quando tudo acabou, só me lembro de pensar que era impossível uma noite mais perfeita do que aquela...